Irmã Eugénie Caps
Marie Eugénie Caps nasceu no dia 3 de junho de 1892, em Loudrefing, província da Lorena, na França, perto da fronteira alemã. No dia 7 de junho, alguns dias depois do seu nascimento, recebe o batismo, na Paróquia de Loudrefing. A sua família é pobre, mas muito cristã. A sua mãe é parenta do Venerável Jean Martin Moye, fundador das Congregações da Divina Providência de Portieux e de São João de Bassel. O seu pai era empregado do caminho de ferro, mais precisamente guarda-barreira.
Infância e adolescência
A sua primeira infância é feliz, com os pais e dois irmãos Camille e Abel. A família reza em comum, tudo era orientado para Deus. Eugénie frequenta a escola infantil das Irmãs de São João de Bassel e desde muito cedo é atraída por tudo o que diz respeito às missões. As narrações missionárias exercem nela uma profunda impressão. Desde o primeiro despertar da razão, está decidida a consagrar-se a Deus. No seu caderno íntimo «A minha Vocação» conta como um dia estava sentada ao lado da irmã, olhava: «Eu tinha um desejo profundo de um dia ser também Irmã; a ideia que tenho da minha vocação religiosa remonta a esse momento».
A transferência do seu pai leva a família a instalar-se perto de Bouzonville, onde Eugénie faz a sua primeira comunhão no dia 29 de maio de 1904. Dois anos mais tarde, a 31 de maio, com fervor, recebe a Confirmação.
Primeiros compromissos de Eugénie
Uma nova transferência do Sr. Caps para Ancy-sur-Moselle, obriga a adolescente a deixar o pensionato de Bouzonville. Inicia-se no trabalho de escritório e segue aulas de costura e de tricô. Mas em 1910 vive a dor de perder o seu pai. Então a Sra Caps decide voltar para Bouzonville e Eugénie torna-se apoio da família trabalhando com a máquina de tricotar e mais tarde entrando no banco de Crédito bolonês.
Em Bouzonville reencontra as suas professoras e várias das suas amigas, como ela, atraídas pela consagração religiosa para a missão. Em 1912, o encontro de uma poesia assinada por Dom Le Roy, « Eu quero ser missionário », a confirma mais na sua vocação. Mas em 1914 rebenta a guerra e não é possível ir mais longe na realização dos seus projetos de vida religiosa. Enquanto espera, Eugénie compromete-se na Cruz Vermelha.
O apelo a fundar
Com o passar dos anos a sua vocação missionária consolida-se e no dia 25 de abril de 1915, o apelo torna-se claro. Depois da comunhão, durante a sua oração de ação de graças, ela compreende que Deus a chama a fundar uma nova congregação religiosa unicamente missionária. No princípio ela sente muito medo, e passa por um verdadeiro combate interior antes de aceitar este apelo de Deus. Acaba por aceitar «tudo o que Deus queria» com o com conselho do padre Eich, seu diretor espiritual, coadjutor na paróquia.
Eugénie Caps, fundadora das Espiritanas
Para ser confirmada neste apelo de fundação, Eugénie pede a Deus um sinal: o regresso do seu irmão, mobilizado pelos Alemães. A guerra termina no dia 11 de novembro de 1918 e Camille regressa são e salvo. Eugénie declara então: Agora é preciso agir!».
Numa exposição missionária, Eugénie compra a biografia do Padre Libermann, fundador da Sociedade do Santíssimo Coração de Maria, que fará fusão em 1848 com a Congregação do Espírito Santo: «eis o nosso espírito prontinho!» exclama ela. O pensamento do Padre Libermann vem ao encontro do seu. A partir de então ela decide dirigir-se aos Espiritanos para fazer avançar o projeto.
No dia 20 de outubro de 1920, em Paris, Eugénie e uma das suas amigas encontram-se com Dom Le Roy, que nessa altura era o Superior geral dos Espiritanos. Dom Le Roy vê o projeto de fundação de Eugénie como um acontecimento providencial, visto que ele procurava precisamente religiosas missionárias para os territórios ultimamente confiados aos Espiritanos depois do tratado de Versailles.
E é assim que no dia 6 de janeiro de 1921, na festa da Epifania, em Farschwiller (região da Lorena) depois de muitas diligências e provações, Eugénie e duas companheiras fundam a Congregação das Irmãs Missionárias o Espírito Santo.
A seguir, organiza-se o noviciado para formar as primeiras Irmãs Espiritanas. Em outubro de 1924, Eugénie pronuncia os seus primeiros votos em Béthisy-Saint-Pierre, Oise. Sendo a Congregação exclusivamente missionária, desde 1924, as primeiríssimas irmãs são enviadas para a Martinica, Camarões e Suiça. No dia 5 de outubro de 1930, Eugénie é admitida a fazer os seus votos perpétuos.
Eugénie terá o destino doloroso do « grão caído na terra » que dá muito fruto, porque ela nunca partirá em missão ao longe, mas permanecerá fundadora até ao fim pelo sacrifício da sua vida oferecida a Deus e às suas irmãs em missão.
Em 1931, então com 38 anos de idade, graves problemas de saúde exigem uma hospitalização. É operada após uma oclusão intestinal e morre finalmente no dia 16 de março de 1931 no hospital de Sierre, na Suiça. Os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério de Nogent-sur-Marne, na França, a 29 de setembro de 1967.
Se bem que a sua vida fosse curta, Eugénie Caps deixa uma herança de escritos pessoais e de correspondências que permitem descobrir o caminho de santidade que Deus lhe fez percorrer através da fundação da Congregação.
O desejo de realizar unicamente a Vontade de Deus
Aquilo que marca um primeiro traço da espiritualidade da Irmã Eugénie Caps é a sua determinação em querer realizar unicamente a vontade de Deus. Ela abandona os seus projetos pessoais para aderir ao projeto de Deus de fundar uma nova Congregação missionária. Em abril de 1915 ela escreve no seu diário A minha vocação: «Durante vários dias eu lutava, não podendo resignar-me a dizer um Fiat generoso, para aceitar este papel de fundar a obra que Jesus pedia. Todavia, do que nunca hesitava, era de fazer a sua santíssima vontade. Eu não hesitava perante nenhum sofrimento e nenhum sacrifício para a maior glória de Deus e a salvação das pobres almas».
No dia 13 de julho de 1915, Eugénie escreve esta bela oração, «Senhor, Vos sabeis o que é melhor para mim, que a coisa aconteça segundo o vosso bom prazer. Dai-me o que quiserdes, quando o quiserdes, e da maneira que quiserdes. Fazei de mim o que vos agradar para o meu maior bem e para a vossa maior glória. Colocai-me onde quiserdes e em todas as coisas disponde de mim segundo a vossa vontade. Que a vossa vontade seja sempre a minha, que que eu a siga e que a ela me conforme em todas as coisas. Que convosco eu tenha uma única vontade, que não esteja em meu poder desejar outra coisa senão o que Vós quereis».
O zelo missionário
Desde a sua tenra idade, Eugénie é atraída pelas Missões. No decorrer dos anos, o seu apelo para a vida missionária confirma-se de tal modo que ela funda a Congregação das Irmãs Missionárias do Espírito Santo para a missão unicamente ad-extra, isto é, no estrangeiro. Nesta época tratava-se sobretudo dos países da África. Nos seus escritos ela dá testemunho deste zelo missionário.
No dia 2 de abril de 1921 ela diz isto: «Nós pertencemos inteiramente a esta bela obra das Missões, temos um único fim: trabalhar para a maior glória de Deus e salvação das almas abandonadas da África pagã. Deus encheu todo o meu coração e eu ardo do desejo de viver só para Ele. Eu vejo quanto Jesus me amou até morrer por mim, para me fazer viver no seu amor e por ele. Como lhe pagar amor com amor? Ora bem, continuando a trabalhar nesta nova obra, eu dou-me inteiramente a ela e assim eu me dou inteiramente ao Bom Deus. O meu futuro está nas mãos do meu Criador. Eu caminho na via do sacrifício, mas mais ainda na do amor. Ó minha alma, para a frente, por Deus, com Deus e em Deus! Viva as Missões! ».
A união prática
Muito cedo Eugénie foi habitada pelo desejo e a alegria de uma vida muito unida a Jesus. Em 1919, encontra os escritos do Padre Libermann. Fica maravilhada ao ler nas suas obras as intuições profundas que interiormente a habitam. A este desejo que ela tem de viver em tudo com o Senhor, o Padre Libermann dá-lhe o nome de união prática. «A alma está praticamente unida a Deus quando, renunciando às impressões da vida natural, inspira e anima os atos da sua vida pela graça que nela habita. Ela une-se assim a Deus pela caridade pura que contém a fé e a esperança».
Como noviça, a Irmã Eugénie compreende mais profundamente a união prática e vive-a cada vez mais. Escreve no seu Diário: «Nestes últimos dias, sinto cada vez mais como a minha alma se une a Deus durante o dia, seja na capela, no trabalho, ou mesmo nas numerosas tentações, a minha alma volta-se sempre para Deus. Esta união a Deus facilita-me a luta terrível que tenho com a minha natureza e o meu caráter nem sempre fácil de dominar… É praticando a união com Deus que me torno mais calma e mais tranquila».
E acrescenta: «Quantas graças eu recebo aqui: graças de resignação à santíssima vontade de Deus, graças de recolhimento e de união a Deus, graça do espírito de oração. Uma paz suave invade a minha alma assim como uma calma profunda, eu sinto-me viver para o meu Deus. Sou fiel aos exercícios de piedade e aos deveres do meu cargo. Exercito-me a viver sempre na presença de Deus, mesmo durante o meu trabalho, porque a vida de uma Irmã missionária é viver sobrenaturalmente. Meu Deus, a minha vocação de apóstolo chama-me à vida ativa. Preciso de juntar as duas: vida ativa e vida contemplativa. É verdade que eu vivo no meio do ruído, mas possso mesmo assim viver recolhida na solidão interior e mesmo guardar o silêncio e ser modesta… Deus não quer que eu fique de manhã até à noite na minha cela, longe do ruído, mas que eu viva recolhida e unida a Ele durante o meu trabalho exterior».
O apelo à santidade
Eugénie Caps, mulher espiritual, mulher de ação e de oração, faz uma ligação direta entre a vida do missionário e a santidade da sua vida, isto é a perfeição da caridade como Jesus o pede. Ela sente-se não somente chamada à santidademas deseja também esta santidade para todas as suas irmãs Espiritanas. Eis algumas citações dos seus escritos que dão testemunho deste apelo à santidade.
Dirigindo-se a Jesus, Eugénie faz esta oração: «Fazei mais forte o grande desejo do meu coração de me tornar uma grande santa por vosso amor. Como poderia eu ousar aproximar-me mais de Vós, se não tendesse seriamente à Santidade! Diário da Irmã Eugénie Caps, 1916.
«Para vos servir, meu Deus, precisamos de ser boas e santas religiosas. Tenderemos então à mais alta perfeição. «Sede santos porque eu sou santo», diz o Senhor». Diário da Irmã Eugénie Caps, 1921.
«A obra seguirá o caminho desejado! Como eu desejo que esta querida Congregação nascente seja um ninho de pequenas e grandes santas!» Diário da Irmã Eugénie Caps, 1922.
« Oh ! Jesus tão bom, dá-nos tantas ocasiões para nos tornarmos santas. Ele nos dá as graças necessárias, e não seríamos destas almas generosas que reconhecem os seus benefícios? ». Carta da Irmã Eugénie Caps a Catherine Frentz, 1926.
«Todo este novo ano, Jesus o semeou de graças imensas, para o maior bem das nossas almas; sim, são cruzes de todo o género. E pensar que dizendo sempre «sim» ao bom Deus, nos podemos tornar santas, é preciso, o bom Deus o merece para a sua maior glória e a salvação das almas». Carta da Irmã Eugénie Caps a Catherine Frentz, 1929.
«Acima de tudo é preciso realizar o desejo de Nosso Senhor: ser santas, só as almas verdadeiramente santas que seguem o exemplo e as palavras de Jesus Cristo, participam na sua obra Redentora, fazem bem às almas. Nós somos chamadas a continuar a obra de Jesus, devemos então viver de uma vida profundamente sobrenatural, uma vida de abnegação total». Carta da Irmã Eugénie Caps a Catherine Frentz, 1927.
« Sejamos Missionárias, sejamos santas !!! No amor de Jesus, Maria, José eu vos repito a minha profunda e sincera afeição e acredite ser compreendida pela vossa dedicada». Carta da Irmã Eugénie Caps a Catherine Frentz, 1927.
A confiança em Maria
Desde os princípios da fundação, Eugénie quis confiar a Congregação ao Santíssimo Coração de Maria. Podemos sentir toda a sua confiança em Maria como um guia muito seguro que a conduz a Cristo Jesus. Nos seus escritos, ela faz a Maria esta oração: «Minha boa Mãe, protegei-me, por favor, é no vosso barquinho que eu me coloco agora, porque aí, onde Vós segurais a âncora, não há nada a temer, boa e fiel Mãe. Apesar do vento e da tempestade, Vós conduzis com mão hábil de piloto. E eu quero refugiar-me junto de Vós, Vós o caminho mais seguro que conduz a Jesus».
Ela pede também a Maria graças para as suas amigas: «Tomai então todas as minhas irmãs que deixei em Bouzonville, estendei-lhes também os vossos braços de mãe e não as abandoneis, até que elas pertençam a Jesus por toda a eternidade».
A união íntima com Cristo
Eugénie tem o desejo de se deixar habitar totalmente por Cristo. Ela patilha assim a mesma convicção de São Paulo: «Se eu vivo, já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. A minha vida presente eu a vivo na fé ao Filho de Deus que me amou e se entregou por mim». Gálatas 2, 20. Ela esceve no seu Diário : « Oh, que felicidade conhecer, amar-vos. Mas quão maior é ainda a felicidade de vos receber no sacramento do vosso amor. Aí, deixo de ser eu, já não há senão Vós, meu Salvador! ».