Semeador de Luzes

Minhas Queridas Irmãs,
Caros Amigos,

Neste fim de ano de 2024, certamente muitas coisas atravessam os nossos espíritos e habitam os nossos corações. Todavia eu ouso vir até vós com três acontecimentos centenários da Congregação que são muito marcantes para a nossa história de família religiosa missionária.

Comecemos pelo dia 5 de outubro de 1924, as primeiríssimas Irmãs Espiritanas faziam a sua Primeira Profissão, consagradas para a Missão. Depois vem o dia 29 de outubro de 1924, as primeiras 4 Irmãs Espiritanas partiam para a Martinica. Em seguida, no dia 5 de novembro de 1924, as primeiras 8 Espiritanas partiam para os Camarões. Três centenários a seguir ao Centenário de Fundação da Congregação vivido na Epifania de 2021.

O Carisma ganhava corpo e se tornava visível pela primeira partida de todas estas Irmãs, para fora do seu país natal. O Carisma para fundar uma Congregação unicamente missionária que a Irmã Eugénie Caps tinha recebido do Senhor. Cada uma destas primeiras pioneiras tornava possível a intuição do dia 25 de abril de 1915, que o Espírito tinha inspirado ao coração da Fundadora. Estas mulheres jovens, que tinham acabado de pronunciar os primeiros votos, partiam, levadas pelo vento da aventura missionária, cheias da alegria do anúncio do Evangelho e impacientes pelo ardor de fazer o bem. Cf. Tite 2, 14.

Com todas as Espiritanas, da Comunidade do Céu e da Terra, damos graças ao Senhor por ter guiado a Congregação por caminhos desconhecidos, em terrenos onde a vida nos foi dada, dada a nós e dada através de nós. É verdadeiramente o mistério da Graça que se manifesta. Em primeiro lugar este mistério da Graça manifesta-se na vida de abandono da nossa Fundadora. Depois, este mesmo mistério da Graça manifesta-se na vida missionária de cada uma das Espiritanas, isto é, na trama de vida de toda a Congregação.

« Como são belos sobre as montanhas, os passos do mensageiro, daquele que anuncia a paz, que transmite a Boa Nova ». Cf. Isaías 52, 7. Utilizando a voz do profeta, também nós poderíamos exclamar : como são belos os passos da mensageira sobre as montanhas, na areia, nas picadas, nas longas estradas, nos rios, nos barcos, nas pirogas, nas boas estradas e nos maus caminhos do mato, na savana e na floresta, nas aldeias e cidades, nos arredores das cidades e nas favelas, nas comunidades rurais e nos meios urbanos, na igreja e debaixo de uma árvore, de moto ou de bicicleta, de carro ou de comboio, de autocarro ou de avião, a pé, debaixo da cabana ou da cubata, sob o sol ardente ou a chuva torrencial, nos espessos nevoeiros e na noite sombria… Oh ! Como são belos os passos da Espiritana que anuncia a paz e que ao longo dos tempos leva a Boa Nova, que partilha as páginas do Evangelho, na rotina monótona do quotidiano, com os homens e as mulheres, nossos vizinhos do lado, de hoje.

Eis a nossa alegria deste Natal: recordarmos estas três datas centenárias contemplando o acontecimento que o Senhor nos deu a conhecer, e descobrir Maria e José com o recém-nascido deitado na manjedoura. Cf. Luc 2, 15-20.

O presépio e as suas personagens são sempre para nós, um lugar de meditação e de encantamento. Cada um deles, Maria, José, os Pastores, os Anjos e os Magos, tem uma missão muito particular, para que a missão de Jesus possa realizar-se. Cada um tem um papel bem designado para que a missão de Jesus possa ter sucesso. Cada um está ligado ao outro, pela missão que realiza. E se uma destas figuras falha na sua missão, a de Jesus não atingirá o seu fim. Através disto o Senhor nos diz, como Ele quer precisar dos nossos limites, das nossas fragilidades, das nossas audácias, da nossa confiança… para depositar a sua confiança nas nossas escolhas, e continue assim até ao fim a sua Missão na nossa, aquela que Ele nos dá. Que mistério de Graça!

Este quadro que a cena de Natal nos apresenta é muito importante para nós, missionárias, porque é na incarnação do Verbo e na escuta da voz do Senhor, por cada uma das figuras do Evangelho, que a vontade do Pai se cumpre e a História da salvação se realiza. Todas estas personagens estão em conexão umas com as outras, estão todas ligadas, estão todas em comunicação entre elas, todas tecem, com o seu fio, a tela da incarnação do Verbo… e foi assim, na comunhão das diversas missões, que a história do recém-nascido teve lugar, como hoje a conhecemos. Estamos gratas a cada uma destas figuras do Evangelho pela sua determinação, que lhe permitiu não faltar ao apelo do Senhor.

É graças à fidelidade comprometida de Maria, de José, dos Pastores, dos Magos… que hoje, nesta corrente da fé, nós nos encontramos. É graças à sua audácia em avançar na noite escura que hoje, aí nos encontramos. É graças à sua persistência em querer caminhar na confiança em caminhos desconhecidos, que nós hoje aí nos encontramos. É graças à sua vontade em aceitar despojar-se dos seus raciocínios, abandonando-se, sem restrição, no Espírito, que estas figuras incontornáveis do Evangelho nos deram Jesus, o Messias, o Deus connosco.

É verdade «que a cada um, a graça foi dada segundo a medida do de Cristo». Cf. Efésios 4, 7. Então, no fim deste ano e no início do novo ano, seria importante que  nos perguntássemos, na serenidade e paz de coração, o que é que eu fiz da Graça que me foi dada ao longo de todo este ano de 2024.

E estes três elementos da nossa história, citados acima, poderão ajudar-nos a retomar com humildade, doçura e paciência o caminho que é o nosso: conservar o laço de comunhão entre nós, servir a todos na gratuidade do coração e no entusiasmo da caridade, permanecer atenta àquela ou àquele que está deitado na manjedoura das nossas comunidades, das nossas famílias, dos nossos conhecidos, dos nossos vizinhos… porque não havia lugar para ele na hospedaria. Cf. Luc 2, 7.

É verdade que estamos habituadas a ouvir este género de perguntas e de releituras. E quando as ouvimos, pensamos bastante facilmente e mesmo rapidamente nos nossos vizinhos e vizinhas mais próximos, como se essas passagens do Evangelho se dirigissem a eles e não a nós. Não é verdade? É uma verdadeira tentação que nos acompanha…

E foi por causa disto, mas também por causa do nosso desejo de querer fazer o bem, que o Senhor se entregou por nós, a fim de nos purificar e fazer de nós um povo desejoso de boas obras. Cf. Tito 2, 11-14. É neste sentido que nós proclamamos, pessoalmente e em comunidade, as misericórdias do Senhor, tendo debaixo dos nossos olhos os três acontecimentos centenários da nossa Congregação. Misericórdias que são cantadas pela nossa querida Fundadora e que nós repetimos durante toda a nossa História: «As nossas primeiras Irmãs partindo para a África deixam a nossa terra de França para levar a Boa Nova aos meus queridos irmãos Negros. Meu Deus, esta obra é para eles, abençoai as nossas Irmãs, Vós fizestes tudo. Vós no-las destes! O meu sacrifício se levanta diante de mim, oh! Jesus, eu não parto com elas, só Vós! (…) Sim, meu Deus, repito as vossas misericórdias. Vós fizestes por mim grandes coisas. Vós quisestes servir-Vos de mim para fundar esta obra de Irmãs Missionárias do Espírito Santo e do Santíssimo Coração de Maria. Eu canto o vosso poder, e reconheço que sois Vós o autor de todas as coisas». Cf. Diário da Irmã Eugénie Caps, 2 de novembro de 1924.

Nestas palavras da Irmã Eugénie Caps, ela a primeira a ser chamada à vocação Espiritana, nós podemos reler, guardada toda a proporção, o nosso caminho de vida espiritana durante todo este ano de 2024. E também a nossa alegria de acolher a graça do Deus da Luz para este novo ano que se abre diante de nós. Somos assim convidadas, pelo Senhor, a conservar em 2025 esta certeza da sua Palavra : uma luz desponta para ti. Cf. Salmo 96(97), 11.

Sim, o Senhor, neste princípio do ano, semeia, sem descanso, semeia uma luz para cada um e cada uma de nós. Conservemos bem esta luz, bem acesa, nós, herdeiras de uma Esperança. E não esqueçamos que o Senhor, Ele, faz brilhar a sua Graça através das nossas pobrezas. Lembremo-nos  que Ele, sempre nos deu, desde o início da Congregação, o seu Espírito em abundância.

Então, minha queridas Irmãs nossos caros Amigos, não tenhamos medo de avançar com o Semeador de luzes em caminhos imprevistos, porque o Senhor semeia as suas luzes sob os nossos passos. O Senhor semeia luzes…

É nesta esperança, cheia da luz do Deus connosco, que eu vos desejo um santo e alegre Natal, e um Ano 2025 cheio da gratuidade do Presépio.

Abraço-vos na ternura e na bondade que nos comunicam Maria, José e os pastores na narração do Natal,

 Irmã Olga Fonseca
Superiora geral das Irmãs Espiritanas.