A Irmã Rosalina da Veiga Martins está em missão na Comunidade de Jacmel, no Haiti, e ensina na Universidade Católica Notre-Dame de Haiti. Ela faz-nos viver com ela a sua experiência de acompanhamento dos estudantes junto das pessoas mais vulneráveis.
Hoje, mais do que nunca, no Haiti, a crise política, económica e social se faz sentir com todo o seu peso, daí a necessidade de preparar futuros profissionais capazes de agir e de fazer face à situação. Nesta ótica, a Universidade Católica Notre-Dame de Haiti tomou a iniciativa de enviar os seus estudantes ao terreno, para os pôr em contacto direto com a realidade. Assim, de 11 a 15 de março de 2024, um grupo de 21 estudantes do terceiro ano, em trabalho social, acompanhados por professores, o Sr. Isaac Saint e eu, Irmã Rosalina da Veiga Martins, visitámos diversas instituições sociais na cidade de Jacmel, principalmente RESEDH, Rede Sudeste de defesa dos Direito Humanos, AMHH, All My Heart Haiti, CROSE, Coordenação Regional das Organizações do Sudeste, Faith House, Plan International Haiti, Wings or Hope, Village Luthérien e Fanm deside, Mulheres decididas.
Geralmente, as prisões são de acesso difícil para os estudantes. No entanto foi feita uma diligência para aproximar os estudantes dos prisioneiros, um dos grupos mais vulneráveis do Haiti. O Padre Affricot, Presidente de Justiça e Paz facilitou-nos o processo. Primeiro eu fui com o Padre Affricot e a sua equipa,
tivemos duas reuniões com dois grupos diferentes de prisioneiros em dias e horas diferentes, depois uma reunião com os estudantes para os preparar para a realidade a que deveriam fazer face. Na segunda-feira 6 de março deveríamos visitar a prisão com um grupo de quatro estudantes. Infelizmente, o ataque da prisão de Port-au-Prince deu-se a 4 de março, a segurança das prisões foi reforçada, o nosso projeto suspenso.
As visitas das Instituições eram um pouco diferentes do que fazíamos habitualmente com os estudantes. Passávamos lá toda a manhã, isto é, das 8h30 às 13h, e também à tarde, de 13h às 17h. Em cada Instituição começamos com um encontro com o Responsável, que nos falou da história da Instituição, seguida de uma visita guiada dos locais. E o resto do tempo estávamos com os beneficiários dos serviços. Foi uma experiência extremamente marcante. Todos os estudantes, assim como o Professor, conheciam a existência destas Instituições, mas poucos estavam conscientes do trabalho extraordinário que elas realizam na sociedade.
Falemos de uma organização específica, Wings Of Hope, Zèl Espwa. O seu Diretor, o Sr. Assé Jacky, cresceu num orfelinato e, marcado pela sua experiência, decidiu consagrar o seu tempo ao serviço dos órfãos. Ele disse-nos que nem ele, nem nenhum outro empregado da organização trabalha pelo dinheiro porque, além do facto de não haver dinheiro, o trabalho realizado não tem preço. Isto nos leva a pensar ao que dizia Santa Teresa de Calcutá, unicamente por amor. Wings Of Hope é uma Instituição para deficientes que tem necessidade de importantes meios financeiros, sobretudo no tocante à higiene. Segundo o Responsável, a Organização vive de ajuda exterior.
O Estado costumava apoiar, mas agora retirou-se. Havia muitos visitantes, e quando eles passavam davam sempre alguma coisa. A pandemia de Covid 19 foi um grande problema para a Instituição. Deixou de receber visitantes, o que provocou uma regressão nos beneficiários. Eles, que gostavam de receber visitas, encontram-se de repente separados do mundo. Começaram a sentir-se isolados, isto é, a encontrarem-se com as mesmas pessoas todos os dias. É uma das Instituições que teve o maior impacto emocional nos estudantes. Um estudante declarou que se tinha sentido mal desde o momento em que entrou no estabelecimento até quando saiu. E logo à saída, uma outra exclamou: «Devemos agradecer a Deus por tudo o que temos e por tudo o que somos. Hoje realizei que somos ingratos para com Deus e para com a vida».
Esta experiência era necessária porque, para o trabalho social, a teoria e a prática devem ir lado a lado. É preciso escutar, ver e tocar. Esta experiência era a primeira etapa, a visita. A segunda será explorar, isto é, passar uma semana numa instituição para efetuar um estágio de observação, e por fim escolher uma Instituição para aí efetuar um estágio de longa duração. No concernente à minha experiência pessoal, o que me tocou mais foi ver como pessoas muito simples consagram a sua vida aos outros de uma maneira tão discreta. Um grande testemunho de amor e dedicação da parte do pessoal dos serviços. E eu, que consagrei a minha vida para o bem dos meus irmãos e irmãs, será que me dou bastante? Face a estas realidades, eu interrogo-me e faço minhas as palavras da Estudante, eu me sinto ingrata com Deus e com.
Irmã Rosalina da Veiga Martins