Missionárias do Espírito Santo
A nossa identidade missionária enraíza-se na identidade missionária de Jesus. Nós somos enviadas como Jesus foi enviado. Vejamos um pouco o que isto quer dizer em termos de relação com Aquele que nos envia.
Através dos Evangelhos, nós compreendemos bem quanto o facto de ser Enviado do Pai é essencial para Jesus.
Lucas coloca o início do ministério de Jesus na Galileia, na Sinagoga de Nazaré, com um gesto litúrgico. Jesus lê um extrato do Profeta Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu, para levar a Boa Nova aos pobres. Ele enviou-me a anunciar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista, dar a liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor». Cf. Isaías 61, 1-2.
E Jesus continua fazendo uma curta homilia : « Hoje realiza-se diante de vós esta passagem da Escritura ». Lucas 4, 21. Depois, no Evangelho da infância de Lucas, apresenta Jesus como o Enviado do Pai. É como enviado do Pai que Jesus começa a sua missão, o seu ministério público, ma Galileia.
Em São João, no contexto bem diferente da Hora e assim da Paixão, Jesus dirige-se ao Pai com esta oração bem conhecida da qual eis alguns extratos,
« Pai, chegou a hora.
A vida eterna é que eles te conheçam, a Ti, o único e verdadeiro Deus e Àquele que Tu enviastes, Jesus Cristo.
Eles acreditaram que Tu me enviaste.
Que todos sejam um como Tu, Pai Tu estás em Mim e eu em Ti. Que eles sejam um em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste.
Que eles sejam um, para que o mundo saiba que Tu me enviaste e que Tu os amastes como me amaste a Mim.
Pai, estes reconheceram que Tu me enviaste». Cf. João 17, 1.2.8.21.23.25.
O início e o fim da vida pública de Jesus são assim enquadrados por esta consciência aguda de Jesus de que Ele é o Enviado do Pai. O seu ser de Enviado é tão importante que é mesmo exatamente isso que deve ser conhecido, reconhecido, acreditado, não somente pelos discípulos e amigos, mas pelo mundo. No auge da sua vida, Jesus não se apresenta como um judeu da tribo de David, como um originário de Nazaré, como o filho de Maria e de José, nem mesmo como um pregador desconcertante ou um poderoso curandeiro. Não, Ele apresenta-se a nós como o Enviado de Deus de quem fala como de um Pai, como seu Pai. E eis que Ele apresenta os seus discípulos a seu Pai falando deles, eis aqueles que reconheceram que me enviaste. Tal é o balanço da missão que recebeu e da qual presta contas.
Os Apóstolos, Missionários de Jesus
« Como Tu me enviaste ao mundo, Eu também os enviei ao mundo ». João 17, 18.
Se é importante para a missão de Jesus que a sua identidade de Enviado do Pai seja conhecida, é igualmente importante para a missão dos Apóstolos que a sua identidade de enviados de Jesus seja conhecida. Daí depende ainda o sucesso da missão. Gamaliel, « um Fariseu e Doutor da lei respeitado por todo o Povo », o afirma alto e forte. Diante do Sinédrio que mandou prender os Apóstolos e pensa fazê-los morrer, ele diz : « Se o seu propósito ou a sua obra vêm dos homens, ela se destruirá por si mesma. Mas se verdadeiramente vem de Deus, não conseguireis destruí-los. Não arrisqueis encontrar-vos em guerra contra Deus ». Cf. Atos 5, 34.38-39.
As Espiritanas, Missionárias do Espírito Santo
Nós ouvimos os apelos de Jesus nas Escrituras.
« Ide pelo mundo inteiro. Proclamai o Evangelho a toda a criatura ». Marcos 16,15.
« Como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo ». João 17,18.
Nós também ouvimos os apelos da Congregação quando, desde os anos da nossa formação, nós lemos nas Constituições :
« Jesus Cristo enviou os seus Apóstolos para continuar a sua obra pelo poder do Espírito Santo ». Nossa Vida Espiritana n° 1.
« A nossa vocação própria é de sermos enviadas no seguimento de Cristo ao serviço da evangelização dos povos cujas necessidades são muito grandes e que são os mais abandonados na Igreja de Deus ». Nossa Vida Espiritana n° 6.
« Quaisquer que sejam os setores para onde formos enviadas, a Evangelização realiza-se através de atividades diversas algumas das quais podem variar segundo os tempos, as necessidades, os lugares ». Nossa Vida Espiritana n° 13
« Cristo não cessa de chamar quem Ele quer para levar a Boa Nova aos pobres. Jovens prontos a responder Eis-me aqui, enviai-me.(Isaías 6,8) interrogam-se e procuram descobrir como poderão servir a Igreja e os seus irmãos que estão longe ». Nossa Vida Espiritana nº 63.
Nós ouvimos esses apelos e respondemos sim, no dia da nossa Primeira Profissão, no dia da nossa Profissão Perpétua. Mas depois da nossa resposta generosa em aceitar ser missionária, enviada por Deus, resta-nos vivê-lo toda a nossa vida.
Para nós, religiosas, a referência a Deus passa pelas mediações humanas muito concretas. Nós exprimimos a nossa identidade de Missionárias do Espírito Santo pela nossa referência regular à Palavra de Deus, ao ensinamento da Igreja, à regra de Vida do Instituto, aos documentos capitulares, aos Superiores legítimos. Aqueles que nos rodeiam não podem compreender quem nós somos, se não vivermos humildemente em referência a Deus, à Igreja, à Congregação, aos nossos Superiores. E o sucesso da Missão depende disto, da nossa relação viva com Aquele que nos envia.
Reconheçamos que temos dificuldade em exprimir numa só palavra o vínculo que nos une a Deus, para exprimir a nossa identidade missionária. Pode-se falar de referência, de obediência, de submissão, isto varia com os lugares e as épocas. O importante é que o fundamento deste vínculo seja a consciência de ser filha bem amada do Pai- Como descrever o vínculo de Jesus- Enviado do Pai ? O vocabulário parecerá sempre pobre, como insuficiente.
De há alguns anos para cá, quando da celebração dos Primeiros Votos na Paróquia de Vaucresson, um momento muito esperado pela assembleia é o do envio das Jovens pela Superiora geral. Pela sua voz, cada jovem recebe a sua obediência ouvindo esta Palavra do Senhor a Gedeão, « Com a força que está em ti, vai ! » Cf. Juízes 6,14. O Senhor dirige-se também a nós, suas Enviadas, quando nos confia uma missão, cada dia .
Com a força que está em ti, vai !
Irmã Agnès Simon-Perret